Em apenas três anos, soja e milho já representam 25% da receita da empresa, líder do mercado global de irrigação, no País. E logo devem ser a maior fatia, diz CEO.
Ricardo Almeida, CEO Mercosul da Netafim
Quando se fala de agronegócios no Brasil, é inevitável que, em primeiro lugar, venham à mente soja e milho. O País está entre os líderes mundiais na produção dos dois grãos.
Para a Netafim, líder no segmento de equipamentos para irrigação, essa é uma verdade cada vez mais presente. Líder no segmento de equipamentos para irrigação, a multinacional de origem israelense – mas que hoje é controlada pelo grupo mexicano Orbia, o mesmo dono da Amanco –, resolveu mergulhar neste mercado gigante há apenas três anos. E já sente o impacto dessa decisão.
Segundo o CEO Mercosul da Netafim, Ricardo Almeida, em pouco tempo os produtores de grãos ganharam relevância na operação brasileira. E, em breve, devem ser a principal frente de negócios para a companhia.
“Começamos a vender efetivamente para estes produtores em 2020. Hoje, eles representam 25% do nosso faturamento no Brasil”, afirma Almeida. “Esperamos que os grãos representem metade das nossas receitas em cinco anos”, conta.
O processo de entrada neste mercado foi longo. Almeida conta que a Netafim começou a preparação e as pesquisas para entrar no mercado de grãos em 2010. “Tivemos que desenvolver a tecnologia, adaptar às necessidades destes produtores e desenvolver a rede de distribuição”, diz.
Uma das adaptações envolveu o tipo de irrigação. “Nós trabalhamos principalmente com a tecnologia de gotejamento. Para os produtores de grãos, temos a opção de harmonizar com a irrigação por pivôs”, explica o executivo.
A irrigação por pivôs é mais visível e, por isso, a mais conhecida pelo público. Utiliza grandes estruturas para dispersar a água sobre grandes áreas de lavoura. Já o gotejamento funcional, na maioria das vezes, é feito através de canais na altura ou abaixo do solo, fornecendo água e nutrientes direto para as raízes das plantas.
A escala das lavouras de soja e milho recomenda o uso dos pivôs, mas a Netafim – que ganhou fama e mercado por introduzir a tecnologia do gotejamento, desenvolvida nos kibutz, as comunidades agrícolas israelenses – vislumbrou que a oportunidade estava em oferecer soluções mistas.
“Em muitos casos, a irrigação por pivôs não chega nas ‘esquinas’, nos cantos da área plantada. Então nós conseguimos montar um sistema híbrido, já que o gotejamento consegue chegar a qualquer lugar, em qualquer formato de terreno”, diz Almeida.
Um ponto ressaltado pelo executivo é o aumento da produtividade. Por suprir a necessidade de água em períodos mais secos, as culturas podem ter ganhos de até 40% na produtividade com a irrigação.
“Mesmo em períodos de chuva, sempre tem um espaço de duas a três semanas mais secos. Com o suprimento de água nestes dias, a produtividade pode subir entre 10% e 15%”, explica Almeida.
Até três anos atrás, a Netafim tinha sua atuação concentrada em produtores de hortaliças, frutas e café. A entrada nas produções com áreas e volume maiores tem permitido um crescimento consistente da empresa no Brasil.
“O mercado de irrigação no Brasil cresceu entre 20% e 30% ao ano nos últimos três anos e deve continuar em um ritmo próximo de 20% nos próximos cinco anos. Nós crescemos mais que esta média nestes últimos anos”, conta Almeida.
A demanda tem sido tão consistente que, na última Agrishow, a empresa anunciou um investimento de R$ 30 milhões, que será utilizado principalmente para reforçar o time comercial.
Também aproveitou a presença na feira para “caçar” mão de obra. Instalou lá um posto avançado de sua área de recursos humanos para receber e conhecer possíveis interessados em fazer parte de seu time.
Globalmente, a Netafim faturou US$ 1,2 bilhão no ano passado. “O Brasil não estava entre os principais mercados da empresa no mundo. Agora, nós estamos entre os cinco maiores”, diz o CEO Mercosul da empresa.
E o país ainda tem muito potencial para ser explorado no mercado de irrigação, segundo Almeida. Ele lembra que atualmente, a área de plantações irrigadas no Brasil é de aproximadamente 8 milhões de hectares. “Temos mais 20 milhões em que a estrutura já está pronta para a instalação de sistemas de irrigação”, conta.
Ele lembra que 2022 foi o ano com o maior número de novos produtores que aderiram à irrigação. “Tem regiões em que há um espaço muito grande para crescer, como Minas Gerais, Centro-Oeste e norte do Rio Grande do Sul, onde há problemas frequentes com estiagem”.
A gestão hídrica é, de fato, uma preocupação adicional para os produtores e os sistemas de irrigação de precisão, especialidade da Netafim, são parte importante da solução.
Fenômenos climáticos como o El Niño, que começa a se manifestar e deve afetar o clima global nas próximas safras, podem intensificar o problema, mas, segundo Almeida, não geram uma demanda adicional para o segmento de irrigação.
"O Brasil é um país grande, o El Niño influencia só uma parte. Tem um impacto, mas quem faz este investimento pensa mais no histórico de chuvas da sua região, por se tratar de um investimento de longo prazo".
Já o adiamento de investimentos por parte dos produtores, por conta da queda nos preços das commodities agrícolas, se refletem nas encomendas. Segundo o CEO da Netafim, o setor sentiu, parcialmente, os efeitos desse cenário no primeiro semestre.
"Houve um certo congelamento. Mas a projeção é que com a queda dos custos de produção e a retomada das cotações em 2024, deve haver uma retomada do apetite por investimentos", diz Almeida.