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Foto do escritorFernando Carboni

O arroz chegou aos R$ 100,00 e vai subir mais


Algumas praças gaúchas estão comercializando a saca de arroz a R$ 100,00, livres, e com negócios concretizados. São os casos de Santo Antônio da Patrulha, Osório, Palmares do Sul e Capivari do Sul, no Litoral Norte gaúcho, e também de Camaquã (na planície interna), Pelotas (Zona Sul) e no Porto de Rio Grande. No porto, aliás, para fechamento de carga, houve operações por até R$ 103,00 (final, porto) há uma semana. A expectativa é de que as cotações subam ainda um pouco mais, superando recordes do pico da pandemia (quando chegou aos R$ 105,00) e da crise alimentar, imobiliária e financeira de 2008.


Em Santa Catarina, no Norte há preços referenciais de R$ 88,00 por saca, mas empresas que já pagaram R$ 95,00 por alguns lotes. No Sul, a referência é R$ 90/92,00, mas há negócios confirmados a R$ 97,00 e informação corrente de negócios no entorno dos R$ 100,00 para pagamento no final de setembro.


A semana começou mais lenta, mas foram reportados alguns negócios a R$ 100,00 (brutos) em Pelotas e Santa Vitória do Palmar, nestas terça e quarta-feira. Como de hábito, enquanto os preços sobem o agricultor evita a oferta, esperando obter um lucro ainda maior. E a indústria que está estocada – e em valores bem menor – também recua. Pior para as pequenas indústrias, de giro de mercadoria e capital mais curtos, que precisam ir ao mercado em busca de reposição dos estoques para manter a máquina funcionando.


Pelo menos até que o arrozeiro comece a ter despesas, o que já deve ocorrer no máximo em três semanas, com o início da semeadura. Exceção para quem não aproveitou o tempo firme, condição abundante nos últimos meses, para o preparo das terras e só está realizando estas operações agora. É importante lembrar que quem ainda tem arroz em casa (ou a depósito) teve suporte para enfrentar a pior época de comercialização e pagar custeio e créditos, logo não está desesperado para vender e pode aguardar um pouco mais.


O Cepea, responsável pelo Indicador de Preços de Arroz em Casca no RS, juntamente com o Irga, afirmou que no início da semana as indústrias reajustaram os valores para compra, com casos pontuais de até R$ 2,00 por saca. A preferência é pela aquisição do arroz depositado. O Indicador marcou ontem R$ 95,38/saca de 50 kg, como cotação média no Rio Grande do Sul. Campanha e Região Central ainda têm cotações abaixo disso. No acumulado do mês de agosto, o indicador alcançou 8,53% de valorização.


Pelo câmbio de ontem, uma saca equivalia a US$ 19,32. Volume equivalente (50 quilos) era cotado hoje pela manhã, na Bolsa de Chicago, a US$ 17,43, para os contratos a vencer em setembro. Ou seja, o Brasil, em dólar, opera com preços superiores às referências futuras norte-americanas.

Essa condição retira a competitividade do arroz brasileiro no mercado internacional de arroz em casca e beneficiado. As compras no Brasil, pelo mercado externo, praticamente congelaram.


Tradings têm se ocupado com carregamento e movimentação do cereal para cumprimento dos contratos anteriormente firmados. Há cargas a embarcar até outubro, mas já em menor proporção. Novos contratos estão em suspenso, uma vez que os Estados Unidos, com ótima colheita, devem assumir boa parte dos espaços que o Brasil conquistou nos três últimos anos, em especial, no México e na América Central.


A soma da conjuntura interna, formada por uma safra menor no país e estoques baixos após realizar uma exportação recorde em 2022, de 2,11 milhões de toneladas, a quebra da safra argentina e a baixa disponibilidade do Paraguai – vendido desde abril. Restou o Uruguai, que aumentou o volume de vendas ao Brasil nos últimos meses, mas suas cotações se elevaram significativamente e suas reservas devem passar a ser muito mais disputadas doravante.


A alta dos preços internacionais refletem a soma da suspensão das vendas de arroz branco, longo fino, quebrados e farelos de arroz pela Índia. Ainda que cogite liberar dois, dos 10,5 milhões de toneladas do longo fino que exporta anualmente, o mercado não deverá mudar muito por causa da flexibilização destas cargas da Índia que se destinarão a Bangladesh, Filipinas e alguns países da África.


A situação climática, com chuvas em excesso ou falta na Índia, e nos dois outros maiores fornecedores mundiais, Tailândia e Vietnã, aumentou a pressão na Ásia, continente que produz 90% do arroz do mundo e consome 88%. Com o recolhimento da Índia, estes serão os dois fornecedores mais demandados, seguidos pelos Estados Unidos e, Mercosul.


Para piorar, um sucedâneo do arroz, o trigo, sofre pressão pela quebra do acordo para carregamento de grãos na Ucrânia, como consequência da guerra. Há constante ameaça a navios cargueiros no Mar Negro.


INDÚSTRIA E VAREJO


As indústrias conseguiram repassar volumes mais expressivos de alta às suas tabelas do beneficiado ao varejo, que as assimilou. Um momento de recuperação, portanto, para as beneficiadoras que formaram um estoque “barato”. No entanto, e apesar de um aumento nas saídas e beneficiamento de arroz no Rio Grande do Sul entre maio e julho, nota-se mínima alteração nos preços ao consumidor. Alguns representantes argumentam que o varejo já operava com uma margem mais folgada, capaz de assimilar melhor eventual alta. Na semana, as tabelas evoluíram entre 2,8% e 8,6%, dependendo da marca, segundo uma rede nacional de atacarejos.


Na cadeia produtiva, é consenso que há espaço para que a valorização do arroz ao produtor continue, mas alguns alertas já estão acendendo com relação aos preços praticados. O primeiro deles é o recuo das tradings que operam com exportação – e costumam pagar R$ 2,00 a R$ 3,00 acima da média das indústrias.


Sem a exportação, a grande pergunta que fica é se o mercado doméstico – e sua demanda – darão suporte a este patamar de preços?


Para muitos agentes de negócios, o teto está próximo. Mas, convenhamos que em uma temporada na qual o custo de produção reduziu 18%, segundo o Cepea, e os preços novamente encostaram – e até ultrapassaram os R$ 100,000 em praças importantes do sul, quando soja e milho não acompanharam o melhor desempenho, o arroz tem sido a salvação da lavoura gaúcha. Ao menos, por enquanto. Uma lição, porém, que aprendemos em 2008/09 e 2020/21, é que arroz a 20 dólares se vende, nem que seja fracionando em dois ou três lotes. Porque a vaca pode até subir no poste, mas ela não permanece lá.



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